O
título deste blog revela uma intensão clara. Mudar o tipo de ensino que se
produz nas salas de aula tradicionais. Neste sentido apresentamos uma proposta
que defendemos há algum tempo e que aplicamos com resultados positivos. Os
alunos, quando questionados, identificaram sem dificuldade a alteração do
método de trabalho e classificaram-no de muito satisfatório.
O
método que propomos tem diversas designações sendo a que eu prefiro a de
flipped teaching. Para muitos estudiosos não se trata de um verdadeiro método mas
sim de uma ideologia, de uma forma de trabalhar, uma vez que não está sujeita a
normas rígidas de aplicação.
O
que caracteriza o flipped teaching? É uma estratégia de mudança que inverte a lógica
de atuação do trabalho na sala de aula que se perpetua há séculos.
O
ensino tradicional
Sala de aula de Escola Primária |
No
formato tradicional o professor expõe a matéria (para os alunos dá a matéria)
usando a exposição oral, frequentemente, apoiada num qualquer suporte (manual
da disciplina, ou algum tipo de projeção). Durante anos usaram-se os acetatos
(manuais e mais tarde impressos pelo próprio professor ou por terceiros,
normalmente editoras escolares). Hoje em dia muitos recorrem a apresentações
eletrónicas mas conhecidas pelo nome de uma das aplicações mais frequentemente
usada – o PowerPoint.
A
intervenção oral do professor prolonga-se por mais ou menos tempo de acordo com
a sapiência e os dotes do orador, do tempo de duração da aula, da capacidade de
receção auditiva dos alunos, das características intrínsecas da turma, entre
muitas outras. No limite a exposição oral pode decorrer toda aula. Quando ainda
há tempo a fase da consolidação ocorre usualmente através das atividades
previamente preparadas pelo professor. Com frequência “sobra” trabalho para
acabar em casa. Outras vezes o trabalho para casa é suplementar. Na aula
seguinte corrige-se o trabalho dos que o fizeram e tiram-se dúvidas. Na fase do
controlo sobre a execução da tarefa o mais comum de ouvir é “não consegui fazer
o trabalho” , “não percebi o que era para fazer” ou ainda “não acabei – não fiz
tudo”.
Todos
nós de uma forma ou de outra reconhecemos este padrão, quer como professores,
quer como atuais ou antigos alunos, quer ainda na qualidade de encarregados de
educação. É tão frequente que chega a ser confundido com o próprio ensino. Dito
de outra forma um professor inovador que rompa com este paradigma arrisca-se a
ser mal-entendido e não raras vezes apelidado de mau professor porque “não dá a
matéria como deve de ser”.
Do
lado dos alunos, quantas vezes eles pedem ajuda, em casa, para realizar a
tarefa pedida e não a conseguem obter. Sim porque é fácil um aluno precisar de
ajuda. E se eles não conseguirem efetivamente realizar a tarefa pedida?
Do
lado da família, os pais nem sempre têm disponibilidade física, temporal ou
mental para os ajudar. Isto admitindo que possuem conhecimentos para o fazer
porque há-os que não têm. Os ATL também não são muitas vezes a solução.
Em
conclusão o aluno está na aula a ouvir o professor (o que poderia fazer noutro
lugar) e quando, em casa, precisa de ajuda para a realizar as tarefas, o
professor que é quem o devia ajudar, não está lá.
O
Flipped Teaching
O
flipped teaching inverte esta lógica propondo ao aluno que ouça o professor em
casa (através de videogravações) e que vá realizar as tarefas necessárias à
compreensão e consolidação dos conhecimentos e ao desenvolvimento das
competências associadas à temática na aula onde se encontra o professor para o
ajudar caso ele necessite. Daí o conceito de flip (inverter, virar) o ensino,
Faz em casa o que tradicionalmente faz na aula e na aula o que tradicionalmente
faz em casa.
Os
críticos desta estratégia defendem que só por ser videogravada a “aula” não deixa
de ser expositiva. Há alguma pertinência na crítica, no entanto, as vantagens
são enormes quando comparadas com a estratégia expositiva na aula. Em primeiro
lugar o que se passa na aula é único e irrepetível. Mas muitos dos alunos, por
desatenção ou qualquer outra razão, perdem a sequência e por vezes o que ouvem
é incompleto ou nem sequer faz sentido e “não se pode voltar atrás”. O
professor na aula chega a repetir vezes sem conta a mesma coisa, às vezes aluno
a aluno, perdendo tempo e eficácia. No caso da videogravação o aluno pode
repetir a audição vezes sem conta até perceber a explicação.
Outra
das críticas mais ouvidas é o facto de os alunos poderem não ter, em casa,
condições técnicas para ouvirem a videogravação. Este aspeto está cada vez menos
em causa, uma vez que a grande maioria dos lares portugueses tem computador e
Internet. Mas não deixa de ser verdade que, por vezes, em casa, falta algum
deles ou mesmo ambos. A este respeito interessa dizer que neste conceito a
tarefa em casa pode ser realizada em qualquer lugar e não necessariamente em
casa. Pode ser na escola sem ser na aula (muitos dos alunos fazem as tarefas de
casa na escola) ou até mesmo na própria sala de aula desde que o professor crie
as condições para isso.
A
conclusão que pretendemos tirar é que as aulas podem ganhar um novo alento se
forem libertas do tempo gasto na exposição oral. Não pretendemos demonizar esta prática letiva (não é à toa que ela sobrevive há tantos séculos) mas todos os
adeptos desta nova estratégia - o flipped teaching - são unânimes em afirmar que a qualidade das
relações professor aluno aumenta com benefício para ambos. Por outro lado é
importante o professor pensar bem as tarefas que propõe aos alunos para
realizar na sala de aula porque esta vai ganhar uma nova alma. Sim! Todo o
processo vai dar mais trabalho.
Parabéns Manel!
ResponderEliminarIsto vai dar trabalho, mas a coisa faz-se. O tema é provocatório, faz-me lembrar a tele-escola. Tenho algumas dúvidas no seu funcionamento no 1ºciclo. No 3º e 4º anos e 2ºciclo conheço professores que marcam os tpc e os alunos respondem via net, creio que se chama "escola virtual", apoiados pela Porto editora, Areal e Lisboa editora. Não sei como isto está a funcionar há 2 anos para cá. Agora, o que tenho sentido, nesta minha experiência de aluna-prolongada, é que em determinadas cadeiras da faculdade a nossa experiencia acumulada não é aproveitada, no sentido de partir dela para novas aprendizagens/conquistas. Aí sim, creio que esta metodologia poderia potenciar novos conhecimentos e confrontos. Creio que valerá a pena experimentar. Bom trabalho. Um grande abraço
Isabel gandum
Obrigado pelo comentário Isabel. Espero ir demonstrando, aos poucos, que é perfeitamente possível de fazer e já há várias experiências (não em Portugal) em todos os graus de ensino. Como todas as estratégias não se pode tornar uma panaceia mas pode ser uma "pedrada no charco". A minha experiência, no 2º ciclo, foi muito positiva.
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