sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Flipped Teaching - Um pouco de história

O que fazer quando um aluno falta a uma aula?

Há imensas razões, perfeitamente plausíveis e justificadas, para um aluno faltar a uma ou mais aulas. Seja por doença (talvez a mais frequente) seja por outro tipo de razões desde provas desportivas (relembremos os atletas de alta competição) até ao cumprimento de obrigações legais (ligadas a aspetos jurídico-legais) entre muitas outras. Nestes casos o que fazer?

O conceito, considerado como antecessor ao filpped classroom, -  inverted classroom  - parece ter tido cunhado  por Lage, Platt & Treglia (2000) num curso de Economia (http://kimbathker.wordpress.com/digital-review/) no ensino superior em que estes docentes disponibilizavam aos alunos,  através da videoagração, as respetivas aulas.

Mais tarde surge o termo flipped classroom que é empregue num programa de televisão (2007) pelos professores Aaron Sams e Jonathan Bergmann, estes professores, do ensino não superior, que para responderem à questão anteriormente colocada, resolvem fazer uma série de gravações.


Inicialmente seriam as próprias aulas videogravadas e disponibilizadas aos alunos. Mais tarde oferecem um produto mais elaborado que consiste em videogravar os slides que apresentavam na aula comentados de viva voz pelos próprios como que simulando a própria aula. De evolução em evolução chegam à videobravação, planeada intencionalmente, dos conteúdos científicos, como forma de substituírem as aulas de exposição oral, mas já não como uma estratégia de remediação mas como método de actuação sistemática. Nesta estratégia, cuja evolução iremos acompanhando, chegamos à pergunta de partida que ao fim de algum tempo estes professores de Química fizeram a si próprios – Qual a melhor forma de usar o tempo de aula com os alunos?

Quando perguntado sobre a origem da designação (Flipped classroom) Bergmann recorda a implementação do termo em 2006/2007, numa sequência de eventos que envolvem outros protagonistas, nomeadamente, Karl Fisch. Este usou uma metodologia idêntica, descrita por Dan Pink num artigo no “The Telagraph” (http://www.telegraph.co.uk/finance/businessclub/7996379/Daniel-Pinks-Think-Tank-Flip-thinking-the-new-buzz-word-sweeping-the-US.html), como Fisch Flip, designação que terá adotado por semelhança com o modelo proposto por Sams e Bergmann.

Em 2011 Sal Khan apresenta uma conferência no “TED talk” cujo título (em português) é “Vamos usar o vídeo para reinventar a educação”  onde ele explica como, para ajudar os sobrinhos nas suas dificuldades com a matemática, inicia um conjunto de vídeos em que passo a passo vai explicando a resolução dos problemas.

 

Este conceito evolui e com o patrocínio da Melinda and Bill Gates Foundation vai criar a Khan Academy (https://www.khanacademy.org/) que é hoje uma referência mundial no que se refere a vídeos explicativos sobre os mais variados assuntos académicos. Há também, com o patrocínio da Fundação Portugal Telecom, uma versão em português europeu (http://www.fundacao.telecom.pt/Home/KhanAcademy.aspx) só para a matemática.

As variações sobre a temática sucedem-se a uma enorme velocidade e outro dos grandes impulsionadores desta estratégia,tal como Bergmann e Aaron  também professor de Química, Ramsey Musallam, define o flipteaching como uma forma de os alunos serem primeiramente expostos aos conceitos antes de os estudar em que, como ele próprio afirma, “se deslocam alguns aspetos do ensino para fora da sala de aula”. Numa perspetiva mais de investigação por descoberta, integra o conceito, que no seu entender remonta ao século 19 onde o General Sylvanus Thayer  já o usava na Academia Militar de West Point, com vários estilos de aprendizagem como a técnica do questionamento (inquiry), colaboração e pensamento crítico (critical thinking) num conjunto que associa aos ciclos de aprendizagem.

Poderíamos continuar a descrever aspetos da historigrafia do Flipped Teaching mas creio que o objectivo deste post, que passava por oferecer um enquadramento de evolução temporal está, para já, conseguido.

Concluo referindo que as perguntas inicialmente formuladas, quer no que se refere às aulas não assistidas quer no que se refere à melhor forma de utilizar o tempo de aula podem obter resposta positiva com esta estratégia, como procuraremos demonstrar em futuras publicações de forma mais pragmática.

Não vou, porém, terminar sem me referir, uma vez mais aos autores que mais me influenciaram sobre o que chamei de “ensino às avessas”, Bergman e Aaron, e que hoje continuam na vanguarda desta temática, apesar de o primeiro já se encontrar aposentado da função docente. A última referência vai para o site que agrega uma grande parte dos seguidores desta estratégia e que pode ser acedido em: http://flippedlearning.org/Page/1

Nota: É inevitável que a esmagadora maioria das referências que fui deixando ao longo deste post estejam todas em inglês e se refiram quase exclusivamente aos Estados Unidos da América. Voltaremos ao assunto noutros contextos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Para um ensino às avessas

O título deste blog revela uma intensão clara. Mudar o tipo de ensino que se produz nas salas de aula tradicionais. Neste sentido apresentamos uma proposta que defendemos há algum tempo e que aplicamos com resultados positivos. Os alunos, quando questionados, identificaram sem dificuldade a alteração do método de trabalho e classificaram-no de muito satisfatório.

O método que propomos tem diversas designações sendo a que eu prefiro a de flipped teaching. Para muitos estudiosos não se trata de um verdadeiro método mas sim de uma ideologia, de uma forma de trabalhar, uma vez que não está sujeita a normas rígidas de aplicação.

O que caracteriza o flipped teaching? É uma estratégia de mudança que inverte a lógica de atuação do trabalho na sala de aula que se perpetua há séculos. 


O ensino tradicional

Sala de aula de Escola Primária
No formato tradicional o professor expõe a matéria (para os alunos dá a matéria) usando a exposição oral, frequentemente, apoiada num qualquer suporte (manual da disciplina, ou algum tipo de projeção). Durante anos usaram-se os acetatos (manuais e mais tarde impressos pelo próprio professor ou por terceiros, normalmente editoras escolares). Hoje em dia muitos recorrem a apresentações eletrónicas mas conhecidas pelo nome de uma das aplicações mais frequentemente usada – o PowerPoint.

A intervenção oral do professor prolonga-se por mais ou menos tempo de acordo com a sapiência e os dotes do orador, do tempo de duração da aula, da capacidade de receção auditiva dos alunos, das características intrínsecas da turma, entre muitas outras. No limite a exposição oral pode decorrer toda aula. Quando ainda há tempo a fase da consolidação ocorre usualmente através das atividades previamente preparadas pelo professor. Com frequência “sobra” trabalho para acabar em casa. Outras vezes o trabalho para casa é suplementar. Na aula seguinte corrige-se o trabalho dos que o fizeram e tiram-se dúvidas. Na fase do controlo sobre a execução da tarefa o mais comum de ouvir é “não consegui fazer o trabalho” , “não percebi o que era para fazer” ou ainda “não acabei – não fiz tudo”.

Todos nós de uma forma ou de outra reconhecemos este padrão, quer como professores, quer como atuais ou antigos alunos, quer ainda na qualidade de encarregados de educação. É tão frequente que chega a ser confundido com o próprio ensino. Dito de outra forma um professor inovador que rompa com este paradigma arrisca-se a ser mal-entendido e não raras vezes apelidado de mau professor porque “não dá a matéria como deve de ser”.

Do lado dos alunos, quantas vezes eles pedem ajuda, em casa, para realizar a tarefa pedida e não a conseguem obter. Sim porque é fácil um aluno precisar de ajuda. E se eles não conseguirem efetivamente realizar a tarefa pedida?
Do lado da família, os pais nem sempre têm disponibilidade física, temporal ou mental para os ajudar. Isto admitindo que possuem conhecimentos para o fazer porque há-os que não têm. Os ATL também não são muitas vezes a solução.

Em conclusão o aluno está na aula a ouvir o professor (o que poderia fazer noutro lugar) e quando, em casa, precisa de ajuda para a realizar as tarefas, o professor que é quem o devia ajudar, não está lá.


O Flipped Teaching

O flipped teaching inverte esta lógica propondo ao aluno que ouça o professor em casa (através de videogravações) e que vá realizar as tarefas necessárias à compreensão e consolidação dos conhecimentos e ao desenvolvimento das competências associadas à temática na aula onde se encontra o professor para o ajudar caso ele necessite. Daí o conceito de flip (inverter, virar) o ensino, Faz em casa o que tradicionalmente faz na aula e na aula o que tradicionalmente faz em casa.

Os críticos desta estratégia defendem que só por ser videogravada a “aula” não deixa de ser expositiva. Há alguma pertinência na crítica, no entanto, as vantagens são enormes quando comparadas com a estratégia expositiva na aula. Em primeiro lugar o que se passa na aula é único e irrepetível. Mas muitos dos alunos, por desatenção ou qualquer outra razão, perdem a sequência e por vezes o que ouvem é incompleto ou nem sequer faz sentido e “não se pode voltar atrás”. O professor na aula chega a repetir vezes sem conta a mesma coisa, às vezes aluno a aluno, perdendo tempo e eficácia. No caso da videogravação o aluno pode repetir a audição vezes sem conta até perceber a explicação.

Outra das críticas mais ouvidas é o facto de os alunos poderem não ter, em casa, condições técnicas para ouvirem a videogravação. Este aspeto está cada vez menos em causa, uma vez que a grande maioria dos lares portugueses tem computador e Internet. Mas não deixa de ser verdade que, por vezes, em casa, falta algum deles ou mesmo ambos. A este respeito interessa dizer que neste conceito a tarefa em casa pode ser realizada em qualquer lugar e não necessariamente em casa. Pode ser na escola sem ser na aula (muitos dos alunos fazem as tarefas de casa na escola) ou até mesmo na própria sala de aula desde que o professor crie as condições para isso.

A conclusão que pretendemos tirar é que as aulas podem ganhar um novo alento se forem libertas do tempo gasto na exposição oral. Não pretendemos demonizar esta prática letiva (não é à toa que ela sobrevive há tantos séculos) mas todos os adeptos desta nova estratégia - o flipped teaching - são unânimes em afirmar que a qualidade das relações professor aluno aumenta com benefício para ambos. Por outro lado é importante o professor pensar bem as tarefas que propõe aos alunos para realizar na sala de aula porque esta vai ganhar uma nova alma. Sim! Todo o processo vai dar mais trabalho.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Em jeito de apresentação


Mais de vinte anos depois de ter iniciado a minha atividade docente, após ter assumido responsabilidades de gestão quer de natureza administrativa quer de natureza pedagógica, sempre dentro da "escola", voltei, por opção, à sala de aula.
 
 Encontrei algumas mudanças! Acompanhando o tradicional quadro negro (nalguns casos vestido de verde ou branco), a secretária e o giz (ou a caneta de feltro) encontrei um videoprojetor. 

A secretária também exibia algumas mudanças, tinha menos espaço disponível porque ostentava um computador. Dir-se-ia que com tantas mudanças algo tinha mudado. Pura ilusão, mau grado todo o aparato o processo mantinha-se igual ao que sempre foi.

O conceito típico de lecionação enraizado desde o século 19 supõe uma exposição oral do professor a que se segue um trabalho de consolidação na sala de aula, frequentemente, com continuidade do trabalho  em casa. Pois é! Continuava tudo na mesma.

Felizmente os alunos mudaram! Não de lugar, este mantém-se igual ao que sempre foi. Em filas e colunas, voltados para o centro das atenções, o quadro, seja qual for a cor, e o professor.

Mas eles mudaram, isso é inquestionável. Usam, para seu próprio prazer ou necessidade, inúmeros dispositivos - desde simples telemóveis a smartphones desde consolas de jogos a computadores ou tablets ... e a "escola" mudou?

Proponho-me neste espaço contribuir para uma reflexão/discussão/partilha de possíveis alterações das práticas letivas dentro da  sala de aula. Esta alteração pressupõe o uso de tecnologias digitais que, considerando  a sua plasticidade, são utilizadas como uma mais‐valia e não como mero adorno modernista.