Neste texto é dada continuidade ao
que iniciamos no último post, publicado em 9 de dezembro, sobre este tema.
Depois de uma breve análise sobre o
que é o UDL, daremos continuidade, nesta segunda parte, ao que de maior impacto
o UDL produziu, com impacto na sala de aula e na aprendizagem dos alunos.
Vimos, no post anterior, que há,
por vezes, barreiras intransponíveis que impedem alguns cidadãos ao acesso a
estruturas/serviços, que necessitam, por barreiras físicas que os impedem de lá
chegar.
O que o CAST fez foi estender este
conceito ao ensino e à aprendizagem criando um conjunto de princípios e regras
que transferem para os materiais a capacidade de adaptação retirando desta
forma as “barreiras” e permitindo a todos os estudantes usufruir destes
materiais, e maximizar as possibilidades de sucesso na aprendizagem.
As características dos meios
digitais, pela plasticidade que apresentam, são, naturalmente, os instrumentos
que melhor se adaptam as exigências requeridas. Estas entroncam nas descobertas
que as neurociências fizeram no sentido de perceber o papel que o nosso cérebro
tem no processo de aprendizagem que de seguida abordaremos de forma breve.
O cérebro é um todo e não pode ser
entendido de outra forma. O seu funcionamento é percebido por uma imensidão de
conexões que percorrem o córtex cerebral de uma ponta à outra a uma velocidade
tal que qualquer computador, por comparação, é de uma lentidão desesperante.
No intrincado emaranhado de redes
de trabalho especializadas, três delas têm um papel especial nas tarefas de
aprendizagem. Trata-se de sub-redes primárias, estrutural e funcionalmente distinguíveis,
intimamente ligadas e funcionalmente operacionais. Estão diferenciadas nas
funções que desempenham sendo identificadas pelas três funções referenciadas
por Lev Vygotsky: o reconhecimento da informação a ser aprendida; a aplicação
da estratégia para processar essa informação; e a adesão à tarefa de aprendizagem
(Rose & Meyer, 2002).
Todas as redes neuronais referidas
apresentam duas características que são essenciais à aprendizagem, processam a
informação (1) de uma forma distribuída ativando em paralelo várias regiões do
cérebro e (2) de uma forma hierárquica possibilitando que informações sensoriais possam entrar numa ordem muito baixa
(possibilitando reações de baixo para cima) e, contrariamente, informação contextual possa entrar numa
ordem muito alta (criando ordenamentos de cima para baixo).
Assim, em termos neurológicos, as
três redes primárias que intervêm na aprendizagem são:
- a rede de reconhecimento, especializada em receber e analisar a informação (o “quê” da aprendizagem);
- a rede da estratégia, especializada em planear e executar ações (o “como” da aprendizagem);
- a rede afetiva, especializada em avaliar as prioridades (o “porquê” da aprendizagem).
Realizando a tarefa de ensinar os
nossos alunos a aprender a aprender, de uma forma global, podemos resumir o
trabalho do professor no ensino a três aspetos: (1) ensinar o aluno a
reconhecer padrões e pistas; (2) desenvolver competências estratégicas para a
ação; e (3) motivar o aluno para a aprendizagem.
Para suportar as opções anteriormente
indicadas o UDL propõe três princípios de ação cujo objetivo primordial é
fornecer a cada aluno uma variedade de opções que possam contemplar a idiossincrasia
de cada um. Nestes termos o UDL enuncia os seguintes três princípios:
·
principio um – Apoiar a aprendizagem de
reconhecimento, proporcionando múltiplos e flexíveis métodos de apresentação
dos conteúdos;
·
princípio dois – Apoiar a aprendizagem
estratégica, proporcionando múltiplos e flexíveis métodos de expressão e
aprendizagem;
·
princípio três – Apoiar a aprendizagem afetiva,
proporcionando múltiplos e flexíveis ações de envolvimento (motivação). (Rose & Meyer, 2002, p. 75)
Ao permitir que os materiais de aprendizagem
se adaptem às características de todos os alunos estamos a eliminar as barreiras
que impedem muitos alunos, mesmo sem deficiência aparente, de ultrapassar as
suas dificuldades e obter sucesso nas suas aprendizagens.
Podemos desde já avançar, para uma
melhor compreensão do sistema, as três áreas de atuação em que se subdividem
cada um dos três princípios do UDL:
Tabela 1 - Princípios do UDL (Adaptado
de Universal Design for Learning
Guidlines)
I – Proporcionar Modos Múltiplos de Apresentação
|
II – Proporcionar Modos Múltiplos da Ação e Expressão
|
III – proporcionar Modos Múltiplos da Auto desenvolvimento
|
1 – Proporcionar opções para a perceção
|
1 – Proporcionar opções para a atividade física
|
1 – Proporcionar opções para incentivar o interesse
|
2 – Oferecer opções para o uso da linguagem, expressões
matemáticas e símbolos
|
2 – Oferecer opções para a expressão e comunicação
|
2 – Oferecer opções para o suporte ao esforço e à
persistência
|
3- Oferecer opções para a compreensão
|
3 – Oferecer opções para as funções executivas
|
3 – Oferecer opções para a autorregulação
|
Em particular entendemos de
especial atenção o primeiro princípio por considerarmos que ele poderá ser a
primeira das barreiras a impedir os nossos alunos de progredir.
Na linha do que ficou dito
percebe-se que o objetivo principal destes princípios é o de adaptar o
currículo a um leque muito vasto de solicitações, criando e oferecendo opções
de perceção, realização e motivação que vão ao encontro das necessidades
sentidas por qualquer aluno dentro da sala de aula.
Do ponto de vista da construção dos
recursos, seja na elaboração dos vídeos sobre os conteúdos, seja na
implementação das propostas de trabalho a realizar na sala, todos eles deverão
ter em consideração os princípios do UDL.
Assim sendo, os princípios
preconizados deverão ser implementados, progressivamente, na medida das
possibilidades, nos vários recursos a disponibilizar aos alunos contribuindo
para uma efetiva aprendizagem de todos os alunos e desta forma alterar a
dinâmica da sala de aula de forma inclusiva contribuindo para a melhoria da
aprendizagem de todos os alunos.