segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Universal Design for Learning (UDL) – II Parte



Neste texto é dada continuidade ao que iniciamos no último post, publicado em 9 de dezembro, sobre este tema.
Depois de uma breve análise sobre o que é o UDL, daremos continuidade, nesta segunda parte, ao que de maior impacto o UDL produziu, com impacto na sala de aula e na aprendizagem dos alunos.
Vimos, no post anterior, que há, por vezes, barreiras intransponíveis que impedem alguns cidadãos ao acesso a estruturas/serviços, que necessitam, por barreiras físicas que os impedem de lá chegar. 

O que o CAST fez foi estender este conceito ao ensino e à aprendizagem criando um conjunto de princípios e regras que transferem para os materiais a capacidade de adaptação retirando desta forma as “barreiras” e permitindo a todos os estudantes usufruir destes materiais, e maximizar as possibilidades de sucesso na aprendizagem.

As características dos meios digitais, pela plasticidade que apresentam, são, naturalmente, os instrumentos que melhor se adaptam as exigências requeridas. Estas entroncam nas descobertas que as neurociências fizeram no sentido de perceber o papel que o nosso cérebro tem no processo de aprendizagem que de seguida abordaremos de forma breve.

O cérebro é um todo e não pode ser entendido de outra forma. O seu funcionamento é percebido por uma imensidão de conexões que percorrem o córtex cerebral de uma ponta à outra a uma velocidade tal que qualquer computador, por comparação, é de uma lentidão desesperante.

No intrincado emaranhado de redes de trabalho especializadas, três delas têm um papel especial nas tarefas de aprendizagem. Trata-se de sub-redes primárias, estrutural e funcionalmente distinguíveis, intimamente ligadas e funcionalmente operacionais. Estão diferenciadas nas funções que desempenham sendo identificadas pelas três funções referenciadas por Lev Vygotsky: o reconhecimento da informação a ser aprendida; a aplicação da estratégia para processar essa informação; e a adesão à tarefa de aprendizagem (Rose & Meyer, 2002).

Todas as redes neuronais referidas apresentam duas características que são essenciais à aprendizagem, processam a informação (1) de uma forma distribuída ativando em paralelo várias regiões do cérebro e (2) de uma forma hierárquica possibilitando que informações sensoriais possam entrar numa ordem muito baixa (possibilitando reações de baixo para cima) e, contrariamente, informação contextual possa entrar numa ordem muito alta (criando ordenamentos de cima para baixo).

Assim, em termos neurológicos, as três redes primárias que intervêm na aprendizagem são:

  •  a rede de reconhecimento, especializada em receber e analisar a informação (o “quê” da aprendizagem);
  •  a rede da estratégia, especializada em planear e executar ações (o “como” da aprendizagem);
  • a rede afetiva, especializada em avaliar as prioridades (o “porquê” da aprendizagem).


Considerando que cada aluno é um ser único e irrepetível seria impensável que se construísse materiais à medida de cada aluno. Podemos, no entanto, construir os materiais de instrução de tal forma que façam apelo a cada uma das características que são mobilizadas pelas redes acima identificadas, até porque a variabilidade dos alunos dentro da sala de aula é a norma e não a exceção.

Realizando a tarefa de ensinar os nossos alunos a aprender a aprender, de uma forma global, podemos resumir o trabalho do professor no ensino a três aspetos: (1) ensinar o aluno a reconhecer padrões e pistas; (2) desenvolver competências estratégicas para a ação; e (3) motivar o aluno para a aprendizagem. 

Para suportar as opções anteriormente indicadas o UDL propõe três princípios de ação cujo objetivo primordial é fornecer a cada aluno uma variedade de opções que possam contemplar a idiossincrasia de cada um. Nestes termos o UDL enuncia os seguintes três princípios:
·         principio um – Apoiar a aprendizagem de reconhecimento, proporcionando múltiplos e flexíveis métodos de apresentação dos conteúdos;
·         princípio dois – Apoiar a aprendizagem estratégica, proporcionando múltiplos e flexíveis métodos de expressão e aprendizagem;
·         princípio três – Apoiar a aprendizagem afetiva, proporcionando múltiplos e flexíveis ações de envolvimento (motivação). (Rose & Meyer, 2002, p. 75)

Ao permitir que os materiais de aprendizagem se adaptem às características de todos os alunos estamos a eliminar as barreiras que impedem muitos alunos, mesmo sem deficiência aparente, de ultrapassar as suas dificuldades e obter sucesso nas suas aprendizagens.

Podemos desde já avançar, para uma melhor compreensão do sistema, as três áreas de atuação em que se subdividem cada um dos três princípios do UDL: 

Tabela 1 - Princípios do UDL (Adaptado de Universal Design for Learning Guidlines)
I – Proporcionar Modos Múltiplos de Apresentação
II – Proporcionar Modos Múltiplos da Ação e Expressão
III – proporcionar Modos Múltiplos da Auto desenvolvimento
1 – Proporcionar opções para a perceção
1 – Proporcionar opções para a atividade física
1 – Proporcionar opções para incentivar o interesse
2 – Oferecer opções para o uso da linguagem, expressões matemáticas e símbolos
2 – Oferecer opções para a expressão e comunicação
2 – Oferecer opções para o suporte ao esforço e à persistência
3- Oferecer opções para a compreensão
3 – Oferecer opções para as funções executivas
3 – Oferecer opções para a autorregulação

Em particular entendemos de especial atenção o primeiro princípio por considerarmos que ele poderá ser a primeira das barreiras a impedir os nossos alunos de progredir.

Na linha do que ficou dito percebe-se que o objetivo principal destes princípios é o de adaptar o currículo a um leque muito vasto de solicitações, criando e oferecendo opções de perceção, realização e motivação que vão ao encontro das necessidades sentidas por qualquer aluno dentro da sala de aula.

Do ponto de vista da construção dos recursos, seja na elaboração dos vídeos sobre os conteúdos, seja na implementação das propostas de trabalho a realizar na sala, todos eles deverão ter em consideração os princípios do UDL.

Assim sendo, os princípios preconizados deverão ser implementados, progressivamente, na medida das possibilidades, nos vários recursos a disponibilizar aos alunos contribuindo para uma efetiva aprendizagem de todos os alunos e desta forma alterar a dinâmica da sala de aula de forma inclusiva contribuindo para a melhoria da aprendizagem de todos os alunos.